sexta-feira, 4 de junho de 2010

O "TOTALMENTE OUTRO"



"Mackenzie, eu sou o que alguns chamariam de "sagrado e totalmente de você". O problema é que muitas pessoas tentam entender um pouco o que eu sou pensando no melhor que elas podem ser, projetando isso ao enésimo grau, multiplicando por toda a bondade que são capazes de perceber - que frequentemente não é muita -, e depois chamam o resultado de Deus. E, embora possa parecer um esforço nobre, a verdade é que fica lamentavelmente distante do que realmente sou. Sou muito mais do que isso, sou acima e além de tudo o que você possa perguntar e pensar" (A Cabana, p. 88).




No capítulo "Aula de Vôo" de A Cabana, Mack não consegue se conformar e aceitar a idéia de que a grande mulher negra, Elousia, seja Deus.
Normalmente agimos assim em relação as propostas e idéias que se apresentam diferentes de tudo aquilo que ouvimos e aprendemos e que guardamos como verdade, principalmente quando elas falam sobre Deus.
A verdade é tudo aquilo que me foi passado, seja pelos meus pais ou pelo grupo religioso que pertenço, e o que difere desses ensinamentos é visto como algo perigoso e danoso à integridade dessa verdade.
Todas as nossas concepções sobre Deus são fundamentadas sobre tentativas de outros em compreendê-lo, ou seja, não temos a verdade sobre quem Deus é, apenas tentativas!
Nossas experiências religiosas, sejam elas pessoais ou comunitárias, são fundamentais na tentativa de compreender Deus, mas nunca chegaremos a verdade em sua plenitude, pois ela esteve entre nós mas ela nunca estará plenamente em nós.
Cristo é a verdade sobre Deus entre nós. Cabe-nos então testemunhar sobre essa verdade.
A Bíblia, especificamente o Novo Testamento, é o testemunho sobre a verdade, mas ela não é a verdade, pois a verdade é Cristo e dizer que a Bíblia é a verdade é dizer que ela é tanto quanto Cristo é.
O testemunho, mesmo daqueles que viram de perto a verdade, não pode ser considerado a plena verdade, mas sim o testemunho fiel e verdadeiro de homens que viram de perto a verdade encarnada. É claro que o testemunho dos apóstolos são dignos de confiança e o seu peso é maior do que os que vieram depois, contudo, todos igualmente são testemunhos sobre a verdade.
É arrogância dizer que temos a verdade sobre Deus, pois Ele, segundo Karl Barth, é o “totalmente outro” e o humano jamais poderá compreendê-lo plenamente.
Deus sim pode compreender o humano, pois Ele nos criou e também se encarnou, e apenas o ser humano Jesus pode dizer “eu sou a verdade”, pois Nele vemos Deus como é.
É um ato de humildade se livrar do dogma sobre quem Deus é. Reconhecer que não detenho a verdade, além de um ato humilde, me leva a depender do testemunho dos outros para que juntos possamos ampliar a imagem que temos sobre a verdade, sobre Jesus, sobre Deus. Mas esse testemunho não pode acontecer apenas através de palavras e apologias, mas principalmente por meio de nossas ações.
Na tentativa de compreender Deus observamos não apenas o que Ele é, mas o que Ele faz!



Renato Dumas

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